Friday, February 15, 2019

A mágoa de decidir pelo que pouco sabe e pouco ama o coração. Momentos perdidos, soltos numa cama, um filme de lágrimas partilhadas, corações imensos e semelhantes. E ainda assim não foi suficiente. Não quero mais magoar alguém que me ama tanto assim, e que na sua transparência não se consegue salvar.

Talvez por agora o que precise seja apenas de mim mesma, perdida, achada.

Wednesday, January 16, 2019

Não sei viver com correias e correntes financeiras. Todo o meu trabalho ascenderia a um novo patamar se não fosse esse demónio de dentes afiados a deixar-me tímida, sem saber muito bem como dançar neste mundo de escudos brilhantes cheios de sangue e pedras preciosas. Não sei ser eu num mundo que me motiva a ser pior. Já pouco sei ser eu perante os outros que pensam como eu; mas este mundo sujo não embala ninguém. Estou pior cega do meu coração desde que baralhei as minhas paixões naquilo que paga os manjares da vida. Não sei embalar em mim os sonhos do mundo quando eles reflectem a frieza de uma moeda. Não sei ser neste mundo nada mais que vulto com demasiados sonhos para saber dançar. 

Monday, January 14, 2019

Sou universos de falta de vontade. Todos os sonhos do mundo e continuo inamovível; uma locomotiva que estranha a vontade de ir em frente, como se tivesse nascido apenas para estacar feridas e nada mais. Os rios afluem no meu coração como dantes, no entanto. Na engrenagem a força de mil ventos, no coração chamas selvagens que lambem o sabor de tudo o que ainda não consegui ser. Na distância fugaz vejo-me ser e quero ser. No agora dói-me a vontade sofrida que não sara nada e nada sara. Onde encontrar a força que preciso para ser minha e de mim? Onde estão os vales rítmicos que escondem os tesouros no fim dos arco-íris? 

Sunday, January 13, 2019

Uma face e uma lua espremem luz. Nela projectadas os sonhos de quem as ama. O inverno derrete lá fora, mas ainda e como ele, o meu coração está frio. Teço sonhos como quem não tem mais que fazer que tear. Parece no entanto que já nem neles acredito. Lá fora o sol faz esquecer o inverno em porta fechada. A luz inunda os quartos de mim, e já sei os seus corredores de cor. Tenho tanto por viver, e por vezes tão pouca força de o fazer. Quero ser vida em mim, mas não consigo ser se não manta em cama aberta, vazia de ti. 

Saturday, January 12, 2019

Nas entranhas um agoiro. Não sei bem ser tempestade serena, mas é sempre isso que sempre sou. Não saber o que sentir, ou sentir-se longe de si, é dos mares mais salgados alguma vez construídos. Os dias nascem, e eu sonolenta de vida, não me recordo logo do que sinto. E quando sinto, e me cai no colo, o choro preso em explosão de cor, não sei lidar. Não sei mais lidar comigo mesma se não fugindo um pouco; em provocação constante de querer voltar a ser minha. Quero voltar a ser minha, mas já não sei estar só. E dói-me os dias que passam sem conseguir regressar a casa. Bato de porta em porta e sinto-me perto, mas ninguém me ouve se não o enorme transtorno de dor que não sabe mais ser meu.

Friday, January 11, 2019

Tristes somos todos neste nosso caminho. Mas não somos todos felizes nessa tristeza. E é esse desacato que devemos sempre ter connosco mesmos. Na orla do que sou, sou sempre feliz. No meu âmago, quase sempre sensivelmente triste. E é essa a minha magia - o conhecer o meu coração tão vertiginosamente bem que há conforto nessa solidão. Nesse túmulo de luz e nessa explosão de socorro. Consigo ser tão plena quando grito amor e felicidade, como quando sofro baixios e tristeza. E assim vou e canto o que sei ser. Quero ser do mundo e ser dada em peito aberto, deixar que me mexam nas entranhas e tentem mudar quem eu sou. Os que serão para dar me mão não o tentarão fazer, e é nesse dorido de entrega que vou dedilhado as praias onde me deitar, as nuvens onde dormir. 

Wednesday, January 09, 2019

Uma confusão crescente no peito do que sou. A mente embrulha-se em mim, como maré em porto pouco seguro. Não sei bem o que sentir; se o tudo ou o nada. Se aventura ou carinho, se fogo ou gelo. Se ficar ou se partir. Os dias enrolam um aroma dorido. As ruas vão e vêm no meu caminho como adornos que não me aquecem, nem me definem. O sonho cresce mas escoa numa ria de medos e dores. Não há muito que saiba ser em coragem, e por isso deixo-me assim ficar dormente, sem tecto, debaixo de um céu sem estrelas. 

Wednesday, January 02, 2019

Dia 1 de 365:

Há céus em mim. Uns mais opacos, outros em tempestade. Sou feita de inícios, maremotos e longínquos sonhos. Esta apatia de início de ano é sombra do que sou. Estou apenas cansada, salvaguardada de defesas que imponho em mim como pele. Amo tudo e tanto que já não sei dedilhar entregas sinceras de apenas amor. Não sei se quero ficar ou partir; se guardar espaço para amar mais e melhor, ou se me amar a mim mais e melhor. Não sei bem o espaço que trago ainda no coração para ser de outro que não de mim mesma, primeiro. E nesta dança duvidosa escrevo promessas do que já prometi e nunca consegui ser. Quero tanto ser mais e melhor que depois morro de sono nesta vida cheia do que viver.

Saturday, December 15, 2018

Sou se não planícies nunca áridas. Por dentro de mim um deserto de oceanos arde num lago de fogo. Já não sei se sei quem sou, ou se apenas nunca soube. Só sei que passados 15 anos de escrita continuo só. O meu coração esmagado, carcaça de dor, em palmas rudes que não o souberam ler. E dedilho ainda entrega porque não sei ser se não isso. Feita disso. Nua é tudo o que sei ser. Nua é o que sou. E nua fujo a sete-pés dos mares que me atraiçoam e nunca me deixam sequer afogar a mágoa de ser quem sou. Despida, triste, dada; para sempre dada. Sempre perdida, sempre achada. 

Saturday, May 27, 2017


O que fazer quando a confiança é abalada? O que fazer quando se vive em paz e um terramoto abala e rouba tudo o que tinhas? A tua casa. Os alicerces do que faziam dela um investimento emocional. As portas que abriam sem ranger e de repente tornadas em pó. O que fazer quando julgas que vives a tua vida num certo fado, e encontras sem esperar nós e mais nós que te dizem que tudo não era afinal como previste. Que as histórias que ias marcando em ti, tinha afinal outros fins? Como sentir quando se dá tudo por algo que sentes se não cada mais longe de ti? Que tudo o que foste, ofereceste, cedeste desde tempos quase imemoriais, não corresponde à verdade? Que afinal ele não é como sempre sentiste ser. Que já não é aquele que ofereceu todo o simbolismo num colar, que te protegias e te arredondava nos seus braços numa cadeira de palha longe, ao sul. Que se deixou selar em profundezas escuras em vez de tratar de ti. Que mesmo quando tu trataste dele, se deixa esfolar e atirar contra muralhas perigosas. Que escolhe atirar-se contra essas muralhas afiadas, sabendo de antemão se destruir, e com ele também tu? Como lidar com essa desilusão? Essa dor tão brusca. Tão silenciosa e pegajosa, que não se liberta de ti? O que fazer quando não vês um fim à encruzilhada de dor, mas o amas tanto assim? Quando não sabes o que sentir, o que fazer, quem ser; se ser tu mesma ou se ser outra para que possas ser mais forte e deixar de assim te sentir. Será que algum dia me irei sentir menos infeliz? Menos atraiçoada? Será que um dia irá doer menos? 

Saturday, April 22, 2017

Será que estou intitulada a partilhar tudo aquilo que sinto num espectro público sem esperar ser condenada? Será que sentir coisas menos correctas me tornam incorrecta? Será que esta dor que porto é ofensiva para os outros, ou apenas para mim? Porque me dói, e às vezes dói-me mais nada sentir que tudo de mal sentir. Aos poucos as cordas partem-se e projectam-me para longe. Como um violino desafinado, é como me sinto quando as partes robustas de mim amolecem e eu parto-me ainda mais em mil bocados que nunca mais volto a encontrar. Tenho lágrimas mas não vontade de me separar delas. Prefiro antes que elas me inundem e me deixem a flutuar, sem nada ouvir, sem nada ver se não o azul do céu e um precipício de negro debaixo de mim. Quero desaparecer sem me ir embora. Quero ficar e deixar de ser invisível. Quero inundar-me e nada ouvir. Nada ver.

Thursday, February 09, 2017

Desisto. Ou então nem fui eu que desisti, como quem de forma mecânica e sana desiste de algo. Antes algo dentro de mim. Há uma ruína no meu coração e hoje parece que finalmente, infelizmente, ruiu para nada ser mais. Hoje finalmente parei de forma estupefacta perante a fachada esculpida pela dor e entendi que a desaluguei há tantos anos. Já nada disto é meu, já nada disto sou eu. E este é um caminho que já não é caminho; que já nada é.  À volta há já se não vultos que não reconheço, que passam por mim e nem me olham ou eu a eles. Já nada disto é meu ou sou eu. E eu já nada sou. 

Tuesday, December 27, 2016

Paralizada. Sentir os meus braços e pernas a serem puxados em todas as direcções e mesmo assim não me conseguir mexer. Tentar determinar o porquê das coisas para além do pranto sob-ordinário me toldar a vista, a mente, a força; não conseguir. Que é isso de força? Que é isso de entrega? Que é de mim que pisas. Que é de mim quando a vida muda assim, sem aviso, me tira o chão de baixo dos pés e me diz que aguente? Que é dos meus planos que eram tão cheios e vê-los serem atirados, apodrecidos, às paredes que nem são minhas?

Ver a 100 milhas um dedo meu, e depois outro a 1000km e encontrar pedaços de mim que já nem sei se são pedaços de mim ou de ti, porque éramos apenas um.

Este medo na garganta de não saber ser nada sem ti, não por incapacidade mas porque assim o escolhi. E agora. E agora?

Tuesday, October 18, 2016

Um tambor dentro do peito. Um rufar cheio de sal e dor. Há algo duro em mim quando estás longe. Algo mais célere, mais afiado, mas mais encalorado também. Vejo em mim o quanto de nós sou e sinto-me feliz. É quando estás longe que vejo o quão real somos. O quanto da minha carne é tua e o quanto de ti trago comigo. Acho que me deveria sentir afortunada por ter conhecido amor verdadeiro tão cedo. E é quando estás longe que me sinto mais grata e mais viva. No mal poder esperar que voltes. Sinto a tua falta.

Thursday, April 28, 2016

E as cortinas abrem e há se não cascatas; que caiem, caiem, caiem.

Sunday, March 06, 2016

Tudo o que alguma vez esperei foi que me quisesses salvar todos dias; nunca impus nenhuma condição. Trataria sempre de ti até ao final de mim - e foi tudo isso que aconteceu. Cheguei ao final de mim. E tu nem sequer me abraças. Nem sequer da mesma forma. 

Thursday, February 18, 2016

O regresso dos abismos de mim; esta escuridão que me atrofia e me desenrola em medo de morte. Este frio pegajoso que se escorre da minha garganta à ponta do meu coração; provam-me que te amo e que no fundo de mim quero o meu lugar contigo, unidos seja por que pontes for. 

Monday, February 15, 2016

Doem-me os gritos de guerra que não queres ouvir; todos aqueles que fiz questão de te dizer que eram acerca de nós. Auto-flagelada por pedir de ti algo que já foste, e que temo com tudo o que tenho que já não possas ser. Sei que não é certo - como nada é - pedir-te retorno. Deveria poder aceitar-te como és, bom e mau mas sinto a tua falta como se a morte te tivesse arrancado de mim. E preciso desse ser para ser feliz a teu lado. Dentro de ti. Acho que já nem notas que somos tão pouco juntos dentro de nós; já. Somos inseguros, desencontrados. Trememos a paz antes lançada e aceitamos a guerra como parte do que somos. Em campo aberto negamos a única verdade que sempre existiu sem sequer nos darmos conta. Que somos melhor juntos mas que falta tudo o que não deveria ser preciso para o provar.

Saturday, February 13, 2016

Não tenho de provar nada mais. Devia bastar ser como sou. Conheceres os retalhos do meu coração que afinal também tu tornaste necessários, e os descoseste vezes sem conta. Tudo aquilo que já fui, já entreguei, já provei devia bastar. Mas já não. Não posso continuar a ser vivalma negra em lama ardente - também ela negra. Preciso de poder ser negra mas ter um recanto quente e cheio de luz para onde me recolher. E deverias ser tu a provar a cada instante que ainda o és. Mas já não. Julgas que a sabedoria basta para um coração crente. Que as acções são perdoáveis e que assim as intenções são o que ditam a melodia farta do que se sente. Do que se faz sentir. E porque tentas eu terei de me dar como contente. Porque te conheço. E sei que a tua intenção foi boa e de jeito apaixonado. Mas já não. Não dá mais para tentar explicar estes polos adversos do que sinto. Em como me entrego a ti sem esperar nada em troca, mas o tu nada dares em troca me faz sentir que preciso de esperar. Afinal parece que o amor é absurdo. Que aquilo que dizemos que nunca faremos são promessas falsas. Acho que as promessas não cabem na verdade quando amamos alguém. Mas estranho como sinto que as minhas o fazem. Estranho como eu, com este coração pequenino, já perco o que dizer. Eu. Mas um dia já não.

Friday, February 05, 2016

Tu olhas sequer ainda para mim? Ver é subjectivo, mas o acto de querer ver não o é. Nele há distâncias mais curtas, que arrebatam as dúvidas aos seus desamparos. Penso que já não. Penso que já tão pouco provas da amargura da vida - temes que o pouco que ainda tens te seja arrebatado e então esqueceste que és dança viva, e viva a tua vontade. E que ela comanda ainda assim quem eu própria sou. Não vês que atei eu mesma os cordões aos meus braços, pernas, coração e te ensinei a coordenares o tanto que tenho para te dar. Talvez já menos hoje, mas ainda tanto. Não sei se estou pronta para abandonar cena ou se quero somente que ela se arraste. Apesar de tudo não consigo mais que ela fique igual. 

Sunday, January 24, 2016

Chega a ser engraçado, quase. Esta repetição nada brusca das coisas - como se a vida como ela é fosse para ser vivida em loop. Que o trago que ela porta seja sempre agridoce, e que quando amargo seja para ficar. Acho que já não me dói só a sabedoria de que vivo mais para os outros que os outros para mim e que assim seja eu, sozinha. Que essa certeza solitária seja uma das provas de que os caminhos que trilho serão sempre só meus. Que não há ninguém como eu. Lembro-me de escrever há uns anos que encontrara alguém que era eu num outro corpo. Que éramos "just the same". E é quase burlesca a certeza de que na altura essa era a minha verdade. Talvez na altura fosse certo. Mas a vida corre, não espera. A vida surge e para onde olhamos se altera, no que acreditamos na maioria das vezes, aos outros, esclarece e cai a pés mortos. Terei sempre muito pouco que dizer. Em 10 e poucos anos escrevi poucos acentos do que a vida me deu, zero factos e certezas mesquinhas que eram se não ingenuidade dos anos. Não sou hoje uma pessoa mais esclarecida. Acho que sou hoje uma pessoa mais temerosa do que virá, por iniquidade ao meu coração ainda sinto, mas já menos e com menor intensidade. Leio o que fui, consigo ainda sentir traços desse mesmo ser, mas não sei mais quem conseguirei ser agora. E a pouco e pouco me apercebo que essa fragilidade e despersonificação do meu carácter é a aproximação do fim. 

Thursday, November 19, 2015

Dói-me. Dói-me que queira mais para ti que tu próprio. Que veja o espectro do teu coração a desintegrar-se quando rejeitas as tuas capacidades por continuamente culpares o mundo por todas as tuas dores e tudo o que te foi roubado. Teres as raízes do teu coração no sítio certo mas deixares que elas se propaguem em solo errado - e tudo o que chega a ti ser veneno que mata as tuas convicções, os teus desejos e sonhos. Doí-me que não vejas que isso nos rouba espaço na mesma onda, que nos force em andarmos em carruagens separadas e que isso demarque o compasso ardente de conflito do nosso coração. Começo a lançar demasiada dor ao teu inconsciente desprezo, mesmo depois de todas as lágrimas e promessas ardidas em água. Doí-me porque sinto que caminhamos rumo a um beco em abismo e começo a não querer mais tentar não cair e quedar em total esquecimento. 

Sunday, September 13, 2015

Li algures que a chave para a felicidade é sabermos que nunca temos o controlo. Isso paralelamente fez-me sentir absolutamente indefesa, mas compreensiva de uma valsa que antes não entendia. Obviamente que não preciso que outros digam verdades para as sentir mais verdadeiras. Mas às vezes, há fases em que compreendemos algo de forma diferente. Algo que passa a fazer toda a diferença. Sinto também hoje que apesar de ter lançado guerra às gentes, às multidões, a mim mesma, a ti, que apesar de tudo, intrinsecamente continuo a mesma. Continuo a guardar a bondade rente à borda da manga, uso sempre a cartada da sinceridade porque só ela pode, ainda que por vezes amarga, ser perdoada se mal usada. E acima de tudo que por mais que os outros nunca estejam  dispostos a dar-nos mais, que eu terei sempre de dar tudo o que sou, pois de outra forma teria outro rosto e outro coração. E não há mal maior no mundo que olhar um espelho e todos os nossos ritmos físicos não serem os nossos. No fundo vamos todos morrendo, uns mais completos que outros, mais felizes que outros, e saberemos sempre que poderá haver mais e nunca cessaremos de desejar mais. Os passados por vezes mais perto de nós, outras vezes tão longe que nem sentimos serem nossos. E dói, porque estes deja-vus permanentes são senão chacinas, mágoas e cicatrizes abertas a tudo o que o céu nos negou, ao que ainda nos pode dar, mas que acaba por nos dar apenas cinza e chuva. E dói, porque a dor é o mais perto de viver que existe, e enquanto existir eu saberei estar viva e ser feliz.

Sunday, June 14, 2015

Amanhã farão 26 anos que sou Madalena. Na melancolia solto-me e envolvo-me na escuridão dos lençóis, logo após acordar. Já não faço tanto isso e desanimo-me. Encontro-me a falar sozinha e tento parar. Já tenho com quem falar. Não com todas as pessoas com quem desejaria, mas a vida entranha-se, estranha-se. É tão triste entender que somos mais feitos para destroços que para harmonias. Somos mais talhados para destruir que construir. Para aprisionar que libertar. Já não lutamos pelo que é nosso com a força de 100 naus. Dou por mim desanimada pela falta de força que decidi, eu, não ter.

Nos últimos dias foram dias que pensar no que perdi. Por vezes, tenho fases em que penso apenas no que ganhei, que foi tanto. Mas nesta última semana foi a altura de realizar que perdi, ou perdeu-se de mim, tanto que jurei ser para sempre. Sofro todos os dias com as pessoas que passaram pelo que eu fui e com quem já não falo. Nem falo de já não ver, porque essa é uma das circunstância de se ser adulto. Há paredes que crescem, mais não seja dentro de nós, que nos ocultam as vontades e fazem com que seja mais difícil crescer abundância nas poucas forças que temos. Mas falo de conversar, de tocar em lembranças vagas o coração que partilhámos, quando estávamos em sintonia pura. E é triste, apenas para mim, essa vã amargura da vida. Vejo tantos entender e levar que a vida é mesmo assim, feita de distâncias, de partidas, de esquecimentos. Mas eu não esqueço. Eu não parto. Eu não me distancio. Eu fico a mesma, no mesmo ponto de partida e espero que haja alguém, com quem já tanto fui, que tenha um rasgo de sentimento como o meu. Mas encontro antes estranheza dos outros em mim, como se não encontrassem sentido para termos sido o que fomos, em tempos, tenha sido isso o que tenha sido.

E hoje, nunca apenas hoje, desejo que fosse diferente. Nunca fui de ter milhões de amigos, mas os poucos a que me dei foram bons, numa altura ou noutra, e depois nem sempre tão bons. Eles falam hoje, talvez das circunstâncias da vida. Eu teci culpas, como se as achasse ter, mas na realidade julgo que a culpa é se não da vida em nos tornar mais cobardes que ontem, mais frios que antes. Mais duros que alguma vez. E isso nunca será bom. Porque o melhor que temos é sermos quem somos em bondade, em avença das vertigens, em provas de luta e de causa.

E amanhã farão 26 anos que sou eu pequenina, ainda assim, Madalena. Sempre eu. Sempre dada. Dada até ao desapego dos outros. Ao abandono dos outros. E nunca os esqueço ou ainda assim os abandono. Mesmo que tenha deixado de cessar para eles. Dessa forma sinto que nunca perdi amigos, eles é que me perderam por me terem largado. E ainda assim nos reencontros vagos e raros, por vezes encontro rasgos do que fomos e isso embala a pouca vida que temos, aquela fina linha do destino que um dia balançava solta e livre e hoje encontra-se se não oculta, camuflada por todas as outras linhas que outros decidiram deixar para trás.

Somos mais feitos para destroços que harmonias. Mas eu hoje lembro todas aquelas pessoas de quem inevitavelmente sinto falta em vários momentos da minha vida, sempre. Na aproximação tão vertiginosa da 26ª carruagem da minha vida.

Sunday, April 26, 2015

Será o desistir algo tão cobarde como se ouve dizer? Será que é se não algo tão relativo como as sombras que lancei ao desagrado em compreender que a bondade é se não levada como fraqueza; que o ser-se bom é sinónimo de necessidade de se agradar. De se ser mais que apenas bom. Que apenas aberto ao belo e ao justo.

Tão claro nestes momentos como sou tão diferente do ritmo do resto do mundo. Como é tão duro mas tão bom também entender que posso estar só, mas estou também bela. 

Sunday, April 12, 2015

As coisas que se faz quando temos os olhos bem abertos. Por vezes. Coisas que fazemos sem sentir, ou no desembaraço da dormência. Coisas que tão grandemente se estranham, como se nem nunca se tivessem passado. Se não no âmago do nosso desconforto. Um sentimento tão puramente bizarro. Tão amargamente doce. Quem fui eu naquelas horas se não apenas a marca do que então senti. Que culpa têm as estrelas e as horas contadas se não a mesma culpa que eu mesma tenho em ser doentemente dada aos meus abismos. Às minhas sombras pastéis e negras. Que me fazem depois de meses pensar assim, sentir assim. As desculpas, o atraso de as sentir. Ou eu permanentemente me dissolver em desmedida compaixão pelo nada sentir e depois tudo o que sinto se acumula e se explode dentro de mim. A Madalena que fui há uns meses fui eu. De olhos abertos e peito erguido ao mundo nosso. Errei por poder errar. Agi por poder agir. E essa é hoje a minha queda. É hoje que temo que o que fiz não tenha sido suficiente para me fazer sentir mortal. Para me fazer sentir angustiada por uma mudança que sempre teima em se ceifar. 

Thursday, April 09, 2015

Foram 10 anos. 10 anos e alguns meses. Perdi (ganhei) horas hoje a reler muito do que fui e muito do que me deram em tantas palavras em forma de comentários. Tudo isso conta as histórias de mim. O que fizeram de mim o que sou. E dói. Porque é belo e bom o que vivi. Mau e duro também. Mas bom e belo acima de tudo. Continuo a ser uma melhor escritora quando tenho dores que quando tenho chama. Fugazmente é mais assim que sei ser e é assim também que sou mais eu. E que me sinto mais bonita. Em tempos julgo ter sentido medo por essa ser a minha valsa. Mas aprendi a entender que o que sou, sou-o e pelo menos isso é puro. Sou se não puramente eu. E é assim que sou feliz.

Triste na minha felicidade entendo hoje, depois de tanta vida, que nada nunca se perde totalmente. Terei sempre o que fui e quem tive comigo quando o fomos.  Foram 10 anos, nem sempre presente, mas sempre querendo escrever. Ou coisas que escrevi e entretanto perdi. Oh, as pessoas que amei. Amei tanto.

Amarei sempre. 

Thursday, February 12, 2015

Estou como aquela dor à espera de estalo. O estalo seco, rápido, mas tão doloroso como o dedo na quina do armário. Aquela dor que prende e não deixa respirar. Mas que no seu desenlace traz um esquecimento quase instantâneo. Esta incapacidade de saber o que fazer. De ser adulta dos meus sentimentos. De os ter como meus, não como algo de alguém dentro de mim que não é capitão desta barca. Que não comanda as avenças ou os choros desmentidos. Esta confusão, vinda como primeira vez, de não haver nada simples que sentir, e ser tudo lagos de pesadelos, de confusão e indecisão. Não há direcções que tomar ou nada que escolher. A impotência de saber o que já amo ou amei, de sentir o que fui e quis ser, de fazer ruir o que nunca desejei ou o que insensatamente achei ser sequer meu. Os meus sentidos pouco excitados não remexem já nas minhas memórias hoje já menos puras. Dói-me as mágoas, até as que já esqueci. Dói-me porque é mais fácil doer-me que alegrar-me. Já pouco me alegra como a minha tristeza, e de a saber ser única. E isso é uma perdição, pois incompreendida entendo que afinal nasci para estar só. 

Sunday, November 09, 2014

Não conseguir ver o fogo se este não estiver reflectido algures, em alguém. Não existir a fome mas a dormência e esta apodrecer as feridas ainda assim abertas. Ainda. Como sempre. E eu tento, eu juro que tento, tento renovar-me, tento não bater na mesma tecla, mas como sou não há saída. Há invernos e tempestades. Há naus em remoinhos e dores no coração mesmo quando este está tão, mas tão pequenino. E eu julgo, julgo sempre ser mais forte que as avenças. Julgo sempre, acredito, conseguir ultrapassar todos os ontem derradeiros, os hoje injustos, os amanhãs mais bonitos que hoje e que acabam por nunca o conseguir ser. E este choro de hoje parece-me sempre mais intenso que o de ontem, que o de há 5, 10 anos atrás. Mas é se não o mesmo, igual, desigual. Cheio de sal e do que sou. E quem está no trapézio comigo? Quem atravessa comigo o negrume deste nevoeiro lácteo de mão dada à minha vida triste? Viver com este ardor constante por debaixo das pálpebras, esta sede infesta atropelada na garganta. Esta permanente desilusão de pores-do-sol que sempre surgem depressa demais. Esta minha não-forma de viver que é mais pura que todas as outras. Mas esta solidão dói demasiado. E quem rumaria comigo ao infinito de um poço que é feio e escuro? 

Monday, September 29, 2014

Há um certo brilho fresco quando se sabe ter-se ultrapassado limites, e poder-se simplesmente voltar atrás. Haver a possibilidade de se voltar a ser quem se era. Reconhecer em mim ainda certos traços do que fui, e do que me orgulhava ser. A esperança enclausura de facto a mente. É o espartilho que deixa tudo ou nada respirar. E sou se não eu que comando a valsa orgânica da força do seu aperto. A mente e a esperança quando conseguem dar o braço tornam-se num tudo harmonioso. E quando o são nada mais significa nada mais. Nada mais vale assim tanto. Nada mais tira tanto o fôlego. Nada se não essa saudade portentosa, tão cheia de tudo e força, como o meu coração. Depois de tantos golpes, sou assim dura de roer. Depois de tantas talhas o meu coração pertence na escrita. Pertence nas imagens. Pertence nos meus sonhos, mesmo que eles nunca se realizem. Porque eu sou eu, tão escura mastro acima, nas colheitas verdes e negras, no sopro arreliado dos corações de quem me abandonou. Sou ainda assim tão eu. Tão eu. E não quereria, nem quero, ser nada mais que eu. E eu sou assim. Em solidão em duas da manhã, no aperto de saudade de escrever esta minha escuridão, porque é nela que me sinto mais feliz. Mais intensa, mais livre. Entre o sôfrego raio de luz, e a escuridão do pó. No oblívio.