Sunday, June 14, 2015

Amanhã farão 26 anos que sou Madalena. Na melancolia solto-me e envolvo-me na escuridão dos lençóis, logo após acordar. Já não faço tanto isso e desanimo-me. Encontro-me a falar sozinha e tento parar. Já tenho com quem falar. Não com todas as pessoas com quem desejaria, mas a vida entranha-se, estranha-se. É tão triste entender que somos mais feitos para destroços que para harmonias. Somos mais talhados para destruir que construir. Para aprisionar que libertar. Já não lutamos pelo que é nosso com a força de 100 naus. Dou por mim desanimada pela falta de força que decidi, eu, não ter.

Nos últimos dias foram dias que pensar no que perdi. Por vezes, tenho fases em que penso apenas no que ganhei, que foi tanto. Mas nesta última semana foi a altura de realizar que perdi, ou perdeu-se de mim, tanto que jurei ser para sempre. Sofro todos os dias com as pessoas que passaram pelo que eu fui e com quem já não falo. Nem falo de já não ver, porque essa é uma das circunstância de se ser adulto. Há paredes que crescem, mais não seja dentro de nós, que nos ocultam as vontades e fazem com que seja mais difícil crescer abundância nas poucas forças que temos. Mas falo de conversar, de tocar em lembranças vagas o coração que partilhámos, quando estávamos em sintonia pura. E é triste, apenas para mim, essa vã amargura da vida. Vejo tantos entender e levar que a vida é mesmo assim, feita de distâncias, de partidas, de esquecimentos. Mas eu não esqueço. Eu não parto. Eu não me distancio. Eu fico a mesma, no mesmo ponto de partida e espero que haja alguém, com quem já tanto fui, que tenha um rasgo de sentimento como o meu. Mas encontro antes estranheza dos outros em mim, como se não encontrassem sentido para termos sido o que fomos, em tempos, tenha sido isso o que tenha sido.

E hoje, nunca apenas hoje, desejo que fosse diferente. Nunca fui de ter milhões de amigos, mas os poucos a que me dei foram bons, numa altura ou noutra, e depois nem sempre tão bons. Eles falam hoje, talvez das circunstâncias da vida. Eu teci culpas, como se as achasse ter, mas na realidade julgo que a culpa é se não da vida em nos tornar mais cobardes que ontem, mais frios que antes. Mais duros que alguma vez. E isso nunca será bom. Porque o melhor que temos é sermos quem somos em bondade, em avença das vertigens, em provas de luta e de causa.

E amanhã farão 26 anos que sou eu pequenina, ainda assim, Madalena. Sempre eu. Sempre dada. Dada até ao desapego dos outros. Ao abandono dos outros. E nunca os esqueço ou ainda assim os abandono. Mesmo que tenha deixado de cessar para eles. Dessa forma sinto que nunca perdi amigos, eles é que me perderam por me terem largado. E ainda assim nos reencontros vagos e raros, por vezes encontro rasgos do que fomos e isso embala a pouca vida que temos, aquela fina linha do destino que um dia balançava solta e livre e hoje encontra-se se não oculta, camuflada por todas as outras linhas que outros decidiram deixar para trás.

Somos mais feitos para destroços que harmonias. Mas eu hoje lembro todas aquelas pessoas de quem inevitavelmente sinto falta em vários momentos da minha vida, sempre. Na aproximação tão vertiginosa da 26ª carruagem da minha vida.

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