Detesto que pintem por cima das minhas telas, que sujem os meus desenhos.
Detesto que risquem o que eu já pintei.
E também detesto acabar uma tela e não gostar do que pintei.
Detesto pensar que conheco o que pintei, e quando acabo perceber que é uma desilusão.
Lembro-me aquando as obras lá na ericeira termos de ir para uma casa pequenina. Eu por acaso gostava dela. Mas uma coisa intrigava-me imenso. Desde que tinhamos ido para lá, uns meros meses, que numa parede só existia um prego. Um prego onde tava pendurado um anel. E dei imensa importância a esse anel. Até que um dia sem ninguém ver eu tirei-o e pus. E começaram a acontecer coisas más. Apanhei bichos na cabeça e cortei-me com um chizato. Mas não o tirei, eu gostava dele. No dia em que fomos embora dali fiquei meia hora a olhar para a parede do prego, e quando era para fechar à chave a porta, arranquei o anel do dedo e voltei a pô-lo lá. E eu nem gostava de bijuteria. E só andava de saias porque a mãe queria.
Hoje passo pela casa e nem olho para ela. Mas consigo vê-la vazia e iluminada, com a cozinha branca resplandecente e a sala amarela dos candeeiros. E a parede do anel, mas já não a imagino com o anel. Só com o prego.
Detesto fazer um quadro e perder-me nele.
E hoje já nem sei quem vocês são, e eu nem sou pintora.
3 comments:
Eu nao detesto os teus quadros...
Eu nao detesto o que fazes...simplesmente gosto de tudo!
Inspiração no Tolkien?
Eu gosto de tudo.
Tens é de estar sempre presente.
E não te quero deixar ir embora.. mas vai ter de ser.
CDT M.
Aqui ou ali.
Sempre. Prometo.
No coração
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