Saturday, November 01, 2008

Estou serena. A contemplar tudo o que não passa, parece que há um manto de coisas a acontecer ainda. Parece que de perdição o mundo se afoga, e me arrasta com ele. Dói-me o corpo sem pressa; antevejo uma guerra. Um temporal que se avizinha e tem sabor azedo, como a chuva ácida.

Vejo as liberdades que os outros têm; não as anseio. Vejo as suas perdições, rio-me delas. Não fazem sentido, mas são poderosas, crucificadas em fé, em esperança, que todos tecem e não sabem cantar. Depois quando os desejos se tornam rotina, quando se alcança o destino escrito de antemão, vem a desilusão. Acho-me melhor; sei ver que nunca há contentamento, que a sabedoria nem sempre aquece a alma. Quase nunca.

Mas quando alguém alcança o que eu já quis alcançar, sem desejo apenas vontade, sorrio. Sei que sou melhor, porque me dou, me entrego, mas retorno. Sou difícil, porque sei lutar. Sou inconstante porque sou fantasiosa. Sou triste, porque sinto tudo, e a vida faz parte de mim. Por isso sou difícil, inconstante, fantasiosa e triste. Porque tenho vida, sei que me pertence. E que se não é eterna, cheira a eternidade, se não é mortal, eu já devia ter partido.

Por isso talvez seja vontade de contemplar. Talvez precise de uns dedos entrelaçados nos meus, e na pele a vontade de me ter de alguém. Mas isso sempre há.

1 comment:

Madame Sadayakko said...

como eu te percebo, também eu me revejo aqui. é a função da escrita, criarmos empatias e revermo-nos nos outros. beijinho