Friday, March 16, 2012
A casa afunda-se sem pressas neste silêncio nada pusilânime. De vez em quando anda alguém lá em cima, ouvem-se os canos a torcer a sua valsa indiferente, seguindo longos caminhos. E eu aqui, atenta ao sangue que me atravessa, ao coração que bate sem a minha vontade. Lá fora a ilusão do dia canta as madrugadas que se esqueceram. Grita a vontade que em nada é minha, de que querendo ou não querendo a vida troça de mim e da minha paz. Esta paz mentirosa, nada súbtil que aflora nos livros já lidos e nas recordações já temidas. Haverá sempre o poeta calão e o poeta sincero que nos amedrontar e fazer florir prosas grosseiras, destiladas em cepticismo. Quem me diz que lá dentro, ao fundo, a porta que bateu na força do vento é se não mais uma quimera do dia-a-dia abrupto e vacilante? Procuro palavras mais crescidas de sentimento, as mesmas do português de antigamente, e não subsisto ao desconsolo. O meu corpo erguido será o mesmo que o meu cadáver, e o dia lá fora brotará novamente, com a minha alma tremente no meu corpo dormente, ou nas suas margens. O humo tragará a minha tristeza e bondade, e os tempos sulcarão o que resistirá da minha recordação. Dói-me viver para me abandonar, dói-me viver na doçura enternecida do amor mais fulminante, sorri-me viver na amargura da sabedoria e da verdade. Sou límpida na minha vontade e isso amolece-me os sonhos, mas aguça-me os sentidos, e sou feliz.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment