Sunday, January 24, 2016

Chega a ser engraçado, quase. Esta repetição nada brusca das coisas - como se a vida como ela é fosse para ser vivida em loop. Que o trago que ela porta seja sempre agridoce, e que quando amargo seja para ficar. Acho que já não me dói só a sabedoria de que vivo mais para os outros que os outros para mim e que assim seja eu, sozinha. Que essa certeza solitária seja uma das provas de que os caminhos que trilho serão sempre só meus. Que não há ninguém como eu. Lembro-me de escrever há uns anos que encontrara alguém que era eu num outro corpo. Que éramos "just the same". E é quase burlesca a certeza de que na altura essa era a minha verdade. Talvez na altura fosse certo. Mas a vida corre, não espera. A vida surge e para onde olhamos se altera, no que acreditamos na maioria das vezes, aos outros, esclarece e cai a pés mortos. Terei sempre muito pouco que dizer. Em 10 e poucos anos escrevi poucos acentos do que a vida me deu, zero factos e certezas mesquinhas que eram se não ingenuidade dos anos. Não sou hoje uma pessoa mais esclarecida. Acho que sou hoje uma pessoa mais temerosa do que virá, por iniquidade ao meu coração ainda sinto, mas já menos e com menor intensidade. Leio o que fui, consigo ainda sentir traços desse mesmo ser, mas não sei mais quem conseguirei ser agora. E a pouco e pouco me apercebo que essa fragilidade e despersonificação do meu carácter é a aproximação do fim. 

No comments: