Espanco a dor e obrigo-a a recuar. Estou em paz com os meus sentimentos, finalmente. Mas alguma coisa anseia sair como água que se infiltra num buraco na parede, podendo a qualquer altura rachar a pedra e partir tudo em estilhaços sem fim. Ou então é outra coisa.
Um ardor, só sei isso. Vomito dor, vomito saudade, e tudo tem um sabor amargo. Tinha de sair algum dia. Da boca saem suspiros e o coração aperta. A dor não rasga mais, a saudade não humedece mais os olhos. Exclamo em mim felicidade. Daquelas exclamações cavernosas, geladas mas que confortam por me fazerem sentir. Como o único toque que sou capaz de sentir, e que me angústia. Grito, sinto ainda aquilo que me rasga a pele, me suga o sangue. A luz, o escuro. O frio, o quente. Sinto areia quente nos pés. Para dizer a verdade está a escaldar. Onde estou? O relógio parou, isso já não tem importância. É meia noite mas o sol continua a brilhar. O amanhã chegou hoje, finalmente.
Não digo coisa com coisa.
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