Thursday, July 13, 2006

os homens da minha vida; inspirado nas escrituras de um amigo

O desporto, é o que nos une com toda a complexidade que engrossa em distância e ausências; já antes não o fazia, e cessámo-nos com o desporto também. Transpira um estilo pessoal, mas tão adoptado, é rebelde, selvagem e espontâneo, cresce em mim como quem não quer a coisa. Os sorrisos não são banais, escondem significados que me divirto a desimbolizar, e que ele nem se esforça por os manter quase raros. Um dos homens mais crescidos em mim; e o bom é sabe-lo.

Adoro a maneira como esconde o amor longe dele para não se apoderar do seu corpo; não consigo perceber se já caiu por alguém, mas se tentasse acertar acho que diria que um coração perfeito nunca seria tão céptico sem cair por alguém. O processo histórico, injustiças, confronto indirecto com a futilidade na sua maneira mais agressiva é o que ele ama. As leituras complicadas, de autores de que as pessoas se fazem por esquecer, a travessia diária de um caminho duro de mais para ser feito em estado sóbrio enlouquecem as suas manhãs, é como um ditador sem querer proclamar submissão. Consegue meter medo, ser divertido, complicado, cansativo, não-emotivo, inteligente, agradar, desagradar mas principalmente consegue na maioria das vezes ser atractivo e inesperado, eis que coisa agradável.

É mais como um caminhante. Nunca o consigo ver focado demais para ter uma imagem de como olha para mim, mas é o suficiente para me aperceber que ostenta uma aura espectacularmente desenvolvida para o à-vontade envergonhado.
Borrões em braços de pessoas, traços em folhas de papel de rascunho do teste da terça-feira anterior, um ar de intelectual e promessas para uma amizade furiosa de cumplicidade e honestidade.

Um príncipe que me diz princesa; um ladrão de bons momentos e humilde velho dador de outros tão mais valiosos. A forma mais verdadeira de uma amizade que não é de todo presente, mas que não deixa de o ser. Olhos azuis magníficos, um bebé grande demais para a sabedoria que porta. Um ser inteligente que não o mostra ser, mas que não deixa de mostrar em tudo o que é. Está sempre a chamar o bom do Deus, um apaixonado pela minha mesma paixão, com calos nos dedos adora o sentimento distinto da liberdade-responsabilidade. É tão bom este conhecimento.

Ri-se na roda, é pequenino, mas grande demais. Culto e inteligente em demasia, envergonha-nos por não sabermos a constituição da enzima C2. É pequeno sim, mas persegue objectivos como se fosse do tamanho do mundo. É o homem que mais me faz rir, sorrir. Está comigo há tempo demais, numa das memórias da confraternização com os de idade avançada. Não basta ser um quase irmão, é uma aprendizagem constante, um professor, uma alma gémea, uma companhia. É aluno e esforça-se pelas boas notas, geralmente consegue-as, mesmo quando me esforço por me fazer de amuada e retroceder no seu pedido de desculpas. O seu riso mata-me. É um sapo, um monstro, um anjo e um elfo tudo ao mesmo tempo. A sua fé em Deus, magoa-nos de tão forte, mas na verdade ele não minimiza a amizade, ele não apaga a fé na humanidade, nem em mim creio. Sou completamente apaixonada pela sua responsabilidade, pelas camisas, calças vincadas e ténis, pelo cabelo alinhado. Sou completamente apaixonada pela sua forma de viver, e de me vivê-lo.


Ele pisca os olhos, tropeça as palavras e é bastante discreto; o mesmo não se passa ao olhar. É bonito, por fora e por dentro, e sabe-o o que o torna ainda mais bom de ter em nós. Está constantemente a dizer-se e a tomar-se como diferente de mim, não só no sexo, etnia, tudo. E é demasiado agradável a maneira como o faz para me deixar imune. Ás vezes, mas só as vezes, era frio. Outras vezes escaldava, era quente. Arriscava constantemente o à-vontade de detestar o ensino, os educadores, dizia que isso não era para ele simplesmente porque ele não o queria. Mas ele gosta de aparecer por lá, porque ele gosta daquilo. Foi demasiado agradável a maneira como se apercebeu que errava, que magoava ou simplesmente era escandalosa a maneira como tomava certas coisas. Ele é demasiado delicioso.

Ele protege-me, persegue-me, leva-me a casa e tira-me de lá. Ele é mais ambicioso do que aparenta, ele é estudioso sem o ser, ele é bem apresentável, ele tem o coração mais grande do mundo. Ele é agudo, grave, ele é sincero, ele ama os amigos como ninguém. Ele é português, e defende tudo o que é. Ele defende o bem, protege o mal porque acha que todos merecemos perdão, todos merecemos segundas oportunidades. Ele é a segunda oportunidade, a terceira, a milésima. Ele é esperança, ele é verão, inverno, outono, primavera, ele é sempre, porque está lá sempre. Ele é escola, ele é Lisboa e Nazaré, ele é Deus, e fé. Ele cativa e espera ser cativado. Ele é o principezinho e a rosa, e a ovelha, e a cobra e o elefante. E todos os planetas; ele é amor pela vida, de todas as maneiras.

É sexy ele, selvagem. Ele é todas as noites quentes, e todas as frias. É arrogante, baldas, escuro, confiante. É protector, cavalheiro, bom amante, bom amigo, é pequenino e tão grande, é céu, é terra, é fogo e água; não me deixa esquecê-lo.
Se há coisas que crescem comigo, cá dentro, ele é uma delas. É obscuro quando me trata por amiga, irresistível quando me trata por pequenina, perfeito quando acaba sempre por ter razão, imperfeito quase nunca. Ele é encantador, apaixonante, bonito com as suas costas tortas, o sorriso matreiro, o seu gosto em tomar-me como indecifrável quando já me conhece tão bem, o seu perdão perante as minhas asneiras, o seu toque que me arrepia, ele é desejo, um amigo oculto mas tão potente, a maneira como me irrita com o seu benfica, o seu perfeito tema de a vida ser injusta ou perfeitamente justa, porque é assim mesmo. Tudo nele é mistério; tudo nele é promessa de felicidade. Seria pouco afirmar que é o príncipe do meu reino; apaixona-me completamente.

Eu às tantas já não esperava nada dele, quando ele me veio com uma promessa para toda a vida: de continuar a mudá-la para sempre. É o meu confidente, mesmo que não me confesse, é a minha verdade mesmo que a esconda, é um bebé que cresce tão depressa como a morte se nos aparece. Ele adora-se e detesta-se, esconde segredos tanto como os porta em travessura. É radical e perfeitamente soturno, é arrepiante e completamente diabólico, é envergonhado, tímido, inseguro – mas já o foi mais. Ele tem um cheiro, não o sei definir. Cheira a segurança, cheira a Portugal, cheira a casa, cheira a amizade, cheira a perfeição e a imperfeição também, cheira a falhas, cheira a presença. Ele quer desesperadamente viver, melhor do que já vive. É ambicioso, sonha, tem desejos, é a loucura em pessoa, é a aspiração do conforto e acaba por o querer mais que tudo. É prematuro, sobredotado, respira em estado de adormecimento e deseja-me. Não me deseja só, quer-me, quer todos e tudo, quer a vida. É fotografia, é retrato, é sabedoria. E sabe-o, porque o ostenta ao pescoço, em todo o lado. É o que eu sou; sobrevivente.

Ele era fácil acima de tudo; só era difícil quando me fazia por esquecer, quando abafava as conversas em piadas rápidas e inoportunas. Mas era fácil. Em boa verdade não sei se o continua a ser mas como já o disse a maior verdade em mim, não o deixo de afirmar. Ele continua em mim, tínhamos paixões semelhantes, era desesperadamente inteligente e ensinava-me constantemente como fazer as coisas bem. Não era professor, mas era em pessoa aquela aprendizagem que só a vida toma e nos dá. Era a vivência, o crescimento, era vida por assim se dizer. E era também por ser tão antigo. Só o tempo sabe desde quando o trago em mim, e trago, não o larguei em lado algum, em dia algum ou hora, por precisar de o ter em mim. É necessidade em potência. É vento, é selvajaria, é calma. É vivência.



5 comments:

Mafalda said...

Este é um só, está lá sempre.

Pyny said...

Gostei tanto madalena! Não tenho palavras para descrever o que sinto! Não quero dizer o óbvio, que o post está incrivelmente bem escrito, que és uma pessoa espectacular e tudo o mais a volta...
Gostei mesmo imenso grande companheira dos cinemas;)

s said...

:D

Anonymous said...

Visto ser eu o denominado ser que repele o amor conluo que...que...porra para com as conlusões!

Estou a ser egocentrico ao ponto de esquecer toda a «beleza literaria» do post para me focar num pequeno excerto que, curiosamente, fala de mim. Da minha agradavel presença que faz as damas suspirar, da minha intelectualidade que e deitada abaixo quando vejo por entre a camisola uma respiração mais ofegante ( precebem a piada...)
(shot me!)

great shot...

( plagio meu no fim,mas hey estou no meu direito...)

Professorinha said...

Ola o que me arranjaste, estou num blog!
Estive a ler e gostei dos textos.
Aproveito para te dizer que recebi a tua carta. Boa estadia, o resto dela. Junho vem já aí.
Cumprimentos ao Motorola Rosa. Ainda se faz ouvir quando não deve? Bjs Lina
PS: De viagens nada, que vocês vão fazer exame e, como de costume, vamos devagarinho, oh céus!