Se eu só soubesse olhar,
escolheria por tudo sentir,
o apreço da loucura tentar,
sem nunca, nunca saber como partir.
Porque a vida é feita de olhar e de alma,
mas são palavras que mais nos fazem tentar,
tentar curar a ânsia de sentir, o que mais acalma,
que mais me vai fazer penar, retornar.
Escreves, escrevo palavras que não sabem sair,
as de ferrugem, de desespero, de chamamentos a que não posso resistir.
A dor que se afoga dentro de ti,
a mim faz-me mais tarde perceber porque parti.
E é bom, é mesmo bom ter o afecto da loucura assim;
a loucura de quem nunca morre sem ser artista,
ou de quem artista é em silêncio sem fim,
o silêncio que cala a noite ou canta o dia como a sita.
E é essa mesma madrugada de sossego
que me faz sorrir em aconchego,
quando os dias se embrulham em segredos
que acalmama raiva, destroem medos.
E é mesmo bom ser assim, um grão de areia.
Escapa aos dedos, mas não escapa à teia.
Brilha em luz, e esconde em negro,
como a dor que grita o Tejo.
E Lisboa, tu nada és sem mim:
porque eu sei que nada sou sem ti.
E como a lua que chora sem mar,
eu preciso de ti para me acalmar.
E é pânico, é frio, é ceguez.
E sofreguidão, lamentoso raiar de poder,
poderoso o seu choro de mim
onde a minha alma grita por odores, sinais de ti.
E é mesmo assim que acredito
que há dias que viver sem ti,
mas a alma é fraca, e eu não só grito.
O mar que te acalma, a mim aflige.
E sem ti não há rio, nada em mim,
sem ti envelheço e padeço.
Sem ti a loucura é infinita,
e eu sem saber esquecer,
não esqueço, não esqueço.
(Adormeço, adormeço)
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