Eu já sabia, o que veio, sempre viria. Agora, é isto, este presente levita-me o olhar, sinto um formigueiro incessante nas pernas que me faz querer ficar deitada na cama o tempo que forma o dia, os dias, os meses, o mesmo tempo que eu vou perdendo.
Perdi a vontade de estar lá fora, e detesto aperceber-me que foi demasiado cedo, não demorou nada a vir. Passaram-se apenas aqueles dias desde o dia em que cheguei, os tão poucos, aqueles que se contam em vinte. Olho para mim, como se fosse a minha mãe que me fora aconchegar os lençóis, baixar os estores e fechar a porta, e vejo-me a focar um único ponto na janela fechada, o ponto que me diz se de dia será, se será de noite. Os olhos aquosos, transparentes da alma; secos e tristes.
Secalhar temo demasiado uma ataraxia, para me fazer sair da cama. É, talvez seja mesmo isso que me impeça, mas por outro lado esta agonia precipitou-se sobre mim sem sobreaviso, e eu sem aviso não teci protecção. Mas eu sabia que ele me ia fazer esta falta do mundo, como se eu não o pudesse ter amanhã nem em cinquenta anos, quando sei que ele me guarda a alma, e que é indubitavelmente verdade. Não o terei amanhã, nem em cinquenta anos.
Mas sinto que ainda nem parti. Que há um combóio, um autocarro, que me vai carregar de novo aí; sinto já que não faz sentido se não estiver aí, porque essa não é a minha casa, e é mais fácil a desculpa da esperança de retornar.
Quando se volta realmente, essa desculpa já não faz sentido nenhum. Já não embeleza a ausência, porque o que existia só passara a faltar hoje e não antes quando se dizia que faltara. E secalhar faltara também.
É horrível ter este mesmo sentimento como se nunca tivesse partido.
A inércia, o dormir, só me faz esquecê-lo. E nem assim consigo. Quando foco o ponto no escuro, é a ele que vejo. Quando adormeço é sempre com ele que sonho.
1 comment:
"& the livin' is easy
so, hush little baby,
don't you cry"
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