E aos poucos sinto a morrer em mim aquela espécie de memórias às quais chamo memórias de ocasião. Aquelas que em certa altura aqueceram, mas onde hoje, no pensamento do passado, se encontram demasiadas falhas, demasiados calafrios para serem denominadas com saudades. A tristeza recai sequer nisso, de aos poucos as memórias se tornarem fungos luxuosos dos quais a multidão alheia se alimenta. A mesma multidão que no fundo os semeia. Aquela mesma multidão que em certos espectros temporais foi fantasma da verdade, relinchava meias mentiras à minha vida, e nela coloria metáforas vergonhosas de tanta miséria.
E aos poucos esse passado vai-se tornando num passado morto; a cor da mentira torna-se na certeza de que hoje, indubitavelmente menos sábia, contudo menos dormente, me torno conformada nas teorias que não tenho, aquelas que passo a vida a tentar derrotar.
É inutilmente fácil criar outros absolutos que não nós, é fácil lapidar ideais e torná-los numa benção. Como é fácil condenar, duvidar e, bem, matar.
Fui morta vezes sem conta pela mentiras dos outros, e hoje não sei se serei sequer a sombra do que os outros viram. Mas sei contudo que estou mais gorda do vão das coisas por engolir. Aquelas que me enchem os olhos de brilho, de fatalidades, de exaustão de viver a vida inteira.
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