Sunday, November 09, 2014

Não conseguir ver o fogo se este não estiver reflectido algures, em alguém. Não existir a fome mas a dormência e esta apodrecer as feridas ainda assim abertas. Ainda. Como sempre. E eu tento, eu juro que tento, tento renovar-me, tento não bater na mesma tecla, mas como sou não há saída. Há invernos e tempestades. Há naus em remoinhos e dores no coração mesmo quando este está tão, mas tão pequenino. E eu julgo, julgo sempre ser mais forte que as avenças. Julgo sempre, acredito, conseguir ultrapassar todos os ontem derradeiros, os hoje injustos, os amanhãs mais bonitos que hoje e que acabam por nunca o conseguir ser. E este choro de hoje parece-me sempre mais intenso que o de ontem, que o de há 5, 10 anos atrás. Mas é se não o mesmo, igual, desigual. Cheio de sal e do que sou. E quem está no trapézio comigo? Quem atravessa comigo o negrume deste nevoeiro lácteo de mão dada à minha vida triste? Viver com este ardor constante por debaixo das pálpebras, esta sede infesta atropelada na garganta. Esta permanente desilusão de pores-do-sol que sempre surgem depressa demais. Esta minha não-forma de viver que é mais pura que todas as outras. Mas esta solidão dói demasiado. E quem rumaria comigo ao infinito de um poço que é feio e escuro? 

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