Monday, September 29, 2014

Há um certo brilho fresco quando se sabe ter-se ultrapassado limites, e poder-se simplesmente voltar atrás. Haver a possibilidade de se voltar a ser quem se era. Reconhecer em mim ainda certos traços do que fui, e do que me orgulhava ser. A esperança enclausura de facto a mente. É o espartilho que deixa tudo ou nada respirar. E sou se não eu que comando a valsa orgânica da força do seu aperto. A mente e a esperança quando conseguem dar o braço tornam-se num tudo harmonioso. E quando o são nada mais significa nada mais. Nada mais vale assim tanto. Nada mais tira tanto o fôlego. Nada se não essa saudade portentosa, tão cheia de tudo e força, como o meu coração. Depois de tantos golpes, sou assim dura de roer. Depois de tantas talhas o meu coração pertence na escrita. Pertence nas imagens. Pertence nos meus sonhos, mesmo que eles nunca se realizem. Porque eu sou eu, tão escura mastro acima, nas colheitas verdes e negras, no sopro arreliado dos corações de quem me abandonou. Sou ainda assim tão eu. Tão eu. E não quereria, nem quero, ser nada mais que eu. E eu sou assim. Em solidão em duas da manhã, no aperto de saudade de escrever esta minha escuridão, porque é nela que me sinto mais feliz. Mais intensa, mais livre. Entre o sôfrego raio de luz, e a escuridão do pó. No oblívio.

No comments: