o que pensei foi: "não basta querer ser uma princesa, e consequentemente não o conseguir ser."
li ontem, no livro que hoje acabei e que iniciei deliciosa leitura do primeiro do esquadrão de romances de Miguel Sousa Tavares, Equador, ainda ontem, que enquanto temos ao pé direito, lado da abundância e do a-favor uma rotina apesar de familiar, desconhecida e desconcertante, temos do outro lado, do lado esquerdo, o segundo lado, lado desvastador mas mais terno, menos burocrático e necessário, tudo aquilo que ao longo dos anos construímos com convicção de quem não sabe que de criança se empilha tudo o que nos pode construir, mas preferencialmente destruir. Não é só uma fé enorme em Deus, é um gosto enorme pelas coisas quentes da vida, pelas praias e corpos nus, pelos matos e selvas que vão da Brasília a Trancoso - um gosto enorme por uma vida terrena que se nos pertence por livre iniciativa, pertence, mesmo para aqueles que se afogam em deísmos superiores a sim mesmos, a algo muito maior de que nós, ao que eu mais vulgarmente reconheco como a minha Verdade.
No entanto falo do amor ainda assim. Não em função Dele mas aqui, aqui onde estou. Eu tenho um amor desgastante em mim da descoberta, no entanto é a única coisa que me faz assustar, gelar e transpirar. Eu não sou perfeitamente ambiciosa, mas sonho e procuro maneira de resuscitar o que nunca morre em mim. Porque se me guiasse perante a futilidade que é a previsão, que existe sem dúvida, e o apreço de uma casa, de uma cama quente, o apreço de ter a sorte (eis outra das realidades mais pesadas) de ter uma vida assim, viciante, demasiado boa e que eu não me canso de desfrutar, de que varia sequer sonhar?
Eu sou tudo menos práctica, também. No entanto consigo encontrar soluções directas e encerradas, impossiveis a vista de quem me ama para me curar de mim, dos outros, aos outros, sempre. Sou uma pessoa que pára para pensar sim, e prefiro as palavras e o pensamento, o sentimento à podre acção que as vezes nos faz alucinar. Existem pensamentos, palavras também erradas, mas normalmente há mais pensamentos e palavras que afogam a indiscrição anteriormente atingida, não é como a práctica que se magoa mais do que beneficia quando mal feito, quando não se pensa e dispara infundamentalismos neutros de qualquer compaixão. Ainda assim, às vezes há palavras que magoam mesmo, palavra de honra.
Já tinha antes dito que amo as coisas bonitas. Isso não é ventura de pessoa exigente, coisa nenhuma. Não que não detenha em mim coisas menos bonitas, mas quando falo de coisas bonitas não falo só de bonitas na pela, na cor e no cheiro, no olhar assim mais claro. Tanto mais que encontro nas coisas mais escuras aquilo que para mim é mais bonito, o mais bonito do mundo. Onde quero chegar é: eu acho a vida uma coisa espantosamente bonita. E se Deus quer que eu viva eu vivo, decerto que eu O amo, decerto que sim, mas será que dar valor à vida terrena é sinónimo de contrário? Para mim Deus é hiperónimo de tudo, tudo.
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