Tuesday, February 13, 2007

ela

Não sei o que escreva. Não era suposto vir e continuar a dar de mim. Depois há destes puxões de tudo aquilo que me é a mim eterno, aquela estúpida e insensata saudade que me trespassa o coração momentaneamente pura e constante. Desta vez, não sei mesmo o que escreva sem que me repita, esta minha meninice soletra-se "tempo que é tempo", e esse tempo magoa-me como sempre, quase sempre.
Leio sempre que posso prazeres da Lisboa menina e moça, ou de suspiros do mar que aqui me parece tão revoltamente distante, porque tenho sede de sal e saudade lusitana que nunca mais acaba.
Acho que ninguém sabe ser um ser português como eu. Ninguém consegue sentir tão angustiantemente na alma o que é amar realmente cada calçada, cada rua estreita de uma Alfama escondida do sol de julho ou do choro de abril. Ou a areia fina de uma vila que me viu crescer em reflexos das minhas irmãs, em felicidade suprema de uma alma que sempre percebeu demasiado do mundo, cedo demais. De mim que sempre fui de uma felicidade febril por tudo o que tive e tenho. Por nada do que perdi e por tudo o que sonho e ambiciono e sei poder alcançar, que posso tudo.
Porque ser Portuguesa é ser feliz, amar estar debaixo de um sol doirado, de um vento salgado que faz arder os olhos de saudade e a língua de gosto lusitano, de poder caminhar o mundo e querer sempre voltar. O ter saudade e sorrir porque é mesmo, mesmo bom poder dizer que pertenço aí. E quem me pergunta: "De onde vens?" poder dizer Portugal, e à ignorância de acharem ser no Médio Oriente poder afirmar esplenderosamente, "sim, dentro de mim".

3 comments:

Catharina said...

well done!

Mary said...

Amote mê.
E tenho saudade. Mas acho que não a posso sentir assim tão febril encostada aqui à janela da sala e ver as luzes aqui tão perto, mas lá longe do outro lado do rio. E o que me faz sorrir tantas vezes ao espreitar nestes dias frios lá para fora, é poder ver.te a sorrir ali ao fundo, no horizonte.
Fica comigo. Sempre.
És a minha pequenina, aqui, sempre.
E na terra do nunca.
Bjs

Pyny said...

;)