Prateleiras iluminadas, a pele que se desfia nas paredes, o on do ar condicionado. E o mundo em toda a parte. Só eu e o topo das árvores lá fora sabemos, sentimos, ressonamos, gritamos. Um grito imperceptível de ruína e prisão. Mas ao menos as raízes das árvores levam-nas a toda a parte. Eu? Eu não saio daqui.
Não é só sentir-me encurralada num sítio em que vai fazendo um frio mais desconfortável que me lembro de montes de neves alguma vez terem feito. A falta de roxo transforma a minha imagem num rastejo ultrapassável à força de mil sentinelas numa muralha da China que abraça o mundo inteiro. E tenho mil outros gritos que gritar, e há dor de garganta que não chega nem para um. É feio este constrangimento de omitir tudo em metáforas que me dou a mim mesma, numa escrita de português rudimentar, e tão calcetado.
O verniz das unhas já estalou, as costas doem, os ombros também. As olheiras não são já tão profundas, mas o cansaço é redobrado, uma dor na alma que dói como as costas e os ossos estalam como se carregassem ou alimentassem uma alcateia inteira de lobos e o negrume de um arvoredo.
Tenho aquele desconforto eterno que só é português. E o que faz entristecer? Nem é por Portugal.
2 comments:
sê poeta e vem beber
Anda embebedarte
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